terça-feira, 7 de junho de 2016

Meditação em dependentes químicos, por que não?




Maria Luiza, Paula Mylene e Vitória Amancio.

           A meditação pode ser dividida em A Organização Mundial de Saúde (OMS) salienta que a saúde é um estado dinâmico de bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas ausência de doença. Por isso, o cuidado ao ser humano precisa ser absoluto, já que é preciso considerar as diferentes capacidades do indivíduo.
          A meditação é uma prática de auto regulação do corpo e da mente, caracteriza-se por um conjunto de técnicas que trinam a focalização da atenção. Além disso, ela pode ser caracterizada como uma prática que atinge objetivos semelhantes à algumas técnicas da psicoterapia cognitiva- comportamental, embora por meios distintos. Ambas levam à diminuição do pensamento repetitivo e à reorientação cognitiva, desenvolvendo habilidades para lidar com os pensamentos automáticos. A prática de meditação não substitui a técnica da psicoterapia cognitiva-comportamental, e vice e versa. Mas pesquisas mostram que quando utilizadas de forma complementar apresentam resultados positivos para o progresso terapêutico.
         A meditação pode ser dividida em dois principais tipos, a concentrativa e a meditação de atenção plena (mindfulness). A concentrativa a qual está mais relacionada às funções de orientação e monitoramento, e a meditação de atenção plena (mindfulness), propõem à ampliação da autoconsciência e da consciência do momento atual. Por meio dessa consciência e do controle atencional, busca-se restringir a identificação com processos mentais automatizados, ou seja, aqueles pré-estabelecidos pelo indivíduo, os quais são ou estão, muitas vezes, não muito viáveis.
                Assim, a meditação e o relaxamento podem ser uma alternativa para o tratamento adicional de dependentes químicos, sem transtorno psicótico ou risco de suicídio. É importante destacar que os participantes absorvem as qualidades cultivadas pelas práticas, tal como maior atenção e consciência, nas suas atividades diárias. A meditação no tratamento facilita desde atividades mais simples até as mais complexas, como na alimentação, banho, trabalho, caminhada e diversas outras, pois facilita a adesão e eficácia das mesmas. Destaca-se que essas intervenções são coordenadas e conduzidas por profissionais da área da saúde com treinamento no tratamento clássico e no uso de técnicas alternativas.
              A maneira com que o usuário lida com seus conteúdos mentais é mais importante do que sua ausência, pois é melhor saber ou aprender a lidar com os pensamentos do que evitá-los.  Isto é relevante no que diz respeito a pensamentos implícitos e a sua relação com o abuso de drogas, uma vez que um maior controle sobre os processos mentais pode ser fundamental para que o usuário consiga interromper um condicionamento que o impulsiona a consumir a substância.
           A meditação e o relaxamento ajudam usuários leves e pesados de haxixe, anfetaminas, LSD, outros alucinógenos, narcóticos e barbitúricos a redução do uso de drogas. Em uma análise de Benson (2000), 78% dos indivíduos que usavam maconha e haxixe ou ambos (28% classificados como usuários pesados, isto é, de uma vez ao dia ou mais), depois de praticar por seis meses a meditação transcendental, a qual envolve o uso mental de sons específicos, que se crê terem propriedades psicoativas, somente 37% mencionaram ter usado maconha.
         Depois de vinte e um meses de prática regular da meditação, somente 12% continuaram a usar maconha, uma diminuição de 66%. A diminuição do uso de LSD, alucinógenos, anfetaminas, e narcóticos foi ainda mais intensa. Verificou-se que a meditação ajudou indivíduos a parar de usar essas drogas e até a desistir de vendê-las. Eles mudaram seu comportamento ao ponto de convencer outros indivíduos e conscientiza-los sobre os riscos das substâncias. Os participantes da pesquisa afirmaram que as drogas interferem nos sentimentos profundos que sentem ao praticarem a meditação, os quais são mais agradáveis do que os altos e baixos que as drogas proporcionam.
         Concluiu-se que a redução da fissura dos participantes foi mediada pelo aumento dos escores de aceitação e não julgamento, os quais foram avaliados pela Escala de Competência e Adesão ao MBRP (Programa de Prevenção de Recaída Baseado em Mindfulness -Mindfulness-Based Relapse Prevention Program ). Assim a prática de mindfulness visa aumentar a discriminação e aceitação do indivíduo, de modo a focalizar as suas experiências cognitivas, emocionais e físicas, e ensina-o a assumir uma postura observadora, diante de suas experiências internas, sem reagir automaticamente a elas.
           Em suma, o treino em meditação é uma complementação para o tratamento do uso de drogas, uma vez que induz habilidades como maior consciência das ações, menor reatividade aos estímulos e o uso de métodos auto regulatórias mais eficazes, tais como o controle da alocação da atenção e inibitório. No que refere-se ao duplo-processamento, essas habilidades podem ser especialmente úteis para que o usuário consiga articular as respostas impulsivas, facilitando a expressão de comportamentos guiados pelo sistema reflexivo.
          O melhor caminho para prevenção e luta contra as drogas é tratar o indivíduo como um todo, considerando todos seus aspectos. Apesar disso, profissionais da área da saúde, ainda estão resistentes em relação ao uso de técnicas e práticas integrativas e complementares, como a meditação. Espera-se que com a divulgação cada vez mais difundida sobre os benefícios destas práticas para a saúde e bem-estar dos indivíduos, e que esta realidade possa mudar.

Referências:
BACKES, Dirce Stein et. al. Oficinas de espiritualidade: alternativas de cuidado para o tratamento integral de dependentes químicos. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2012, vol. 46, n.5, p. 1254-1259. ISSN 0080-6234. http://dx.doi,org/10.1590/S0080-62342012000500030.
ANDRADE ABDALA, Gina et. al. A religiosidade/espiritualidade como influência positiva na abstinência, redução e/ou abandono do uso de drogas. Revista Formadores, [S.1]. v.2, n.3, p.447, jan.2009. ISSN 2117-7780. Disponível em: <http://seer-adventista.com.br/ojs/index.php/formadores/articles/view/67/65>. Acesso em: 01. jun. 2016.
PEUKER, Ana Carolina et. al. Processamento implícito e dependência química: teoria, avaliação e perspectivas. Psic: Teor. e Pesq. [online]. 2013, vol.29, n.1. p. 07-14. ISSN 0120-3772. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722013000100002.
MENEZES, Carolina Batpista, DELL'AGLIO, Débora Dalbosco. Os efeitos da meditação à luz da investigação científica em Psicologia: revisão de literatura. Psicol. cienc. prof. [online], 2009, vol. 29, n.2, p. 276-289. ISSN 1414-9893. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932009000200006.

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