domingo, 29 de maio de 2016

A AUTOMUTILAÇÃO SERIA UMA FORMA DE CANALIZAR A DOR?


Káren Dianne, Priscila Braz e Noeme Aparecida

Automutilação geralmente é definida como o ato de uma pessoa se cortar, como forma de autopunição ou uma forma de substituir a dor emocional pela dor. Esta prática pode envolver lesões leves, como arranhar a pele com as unhas, queimar-se com pontas de cigarros passando por lesões moderadas, como cortes superficiais em braços chegando a lesões graves como: dilaceração de membros e suicídio.
               Segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e problemas Relacionados à Saúde (CID-10), a autolesão insere-se na categoria de transtornos dos hábitos e dos impulsos. É uma síndrome psiquiátrica reconhecida, segundo a qual a pessoa repetidamente não consegue resistir a impulsos que a levam a adotar este comportamento.


A prática da automutilação acontece mais frequentemente em adolescentes do sexo feminino. Há uma relação dos hábitos de automutilação com as frustrações relativas ao universo das descobertas dos adolescentes, envolvendo uso de drogas, intrigas escolares, crises familiares e as primeiras decepções amorosas.
Essas lesões autoprovocadas representam uma forma de controlar as emoções, ansiedade, raiva, sensação de vazio, é uma expressão de interno mal estar. A partir da automutilação a pessoa sente uma espécie de alívio imediato, desta maneira pode se transformar em um vício.
Muitas são as possíveis causas para o surgimento ou manutenção desse comportamento autodestrutivo. Dentre elas estão os problemas emocionais, a depressão, a bipolaridade, transtornos de personalidade, disfunção ou transtorno alimentar, dificuldade no convívio familiar, abuso sexual, dificuldades de relacionamento e de expressão e isolamento social, tendo relação entre estes fatos, sendo eventos multifatoriais.
No entanto, a automutilação é diferente da tentativa de suicídio; a pessoa se corta,mas não possui o intuito ou desejo de morrer. A explicação referida pelos pacientes é que eles se cortam para aliviar sensações ruins como vazio interno, angústia, raiva de si mesmo, tristeza com ou sem motivo e até mesmo para relaxar. Uma boa parte da população não entende tal ação e julgam sem ao menos tentar entender o porquê da mesma, seja por falta de informação ou até mesmo o excesso de conteúdos errôneos disponibilizados.
              A automutilação seria uma forma de gritar, uma tentativa de se comunicar, de expressar a dor e o sofrimento, apesar da falta de palavras ou às vezes a falta de escuta. Se por um lado, faltam palavras para expressar, talvez por outro, existam excessos de críticas e julgamentos que precisam ser "cortados". O posicionamento social negativo em relação a quem violenta seu próprio corpo pode reforçar os sentimentos negativos e consequentemente o desejo de cometer o ato de se mutilar.
            As consequências da automutilação podem ser diversas para os que praticam tal ato; como evitar o convívio social, evitar situações que o corpo fique exposto em eventos esportivos e de lazer, além de se privarem de expressar seus sentimentos, podendo com isso estar mais predispostos ao desenvolvimento da depressão.
           O tratamento da pessoa que se automutila é composto de atendimento psiquiátrico e psicológico. Através da psicoterapia a pessoa tende a expressar suas dores emocionais e sua angústia. Assim, através das palavras do profissional a mesma poderá ter um alívio sem a necessidade de se automutilar. O acompanhamento por um profissional de saúde é essencial para ajudar estes jovens a dar nome às suas emoções, a identificarem formas saudáveis e adequadas de lidar com os seus problemas.

REFERÊNCIAS


ARCOVERDE, R. L. Autolesão e produção de identidades. Pró- reitoria de pesquisa e pós graduação, v.1, n.1, 2013.

BARROSO, V. L. Automutilação - sofrer para viver. Oficina de psicologia, v.1, n.1, 2014

CEDARO, J. J.; NASCIMENTO, J. P. G. Dor e gozo: relatos de mulheres jovens automutilações. Psicologia, USP, v.1, n.1, p.203-223, 2013.

DINIZ, B. S.; KRELLING, R. Automutilação de dedos e lábio em paciente esquizofrênico. Revista psiquiátrica clínica, v.33, n.5, 2006.

FELDMAN, M.C. - The challenge of self-mutilation: a review. Compr Psychiatry, p.252-269, 1988.

MILLER, J. A. Introdução à leitura do Seminário da angústia de Jacques Lacan. Opção Lacaniana, n. 43, p. 7-91, 2005.

SILVA, P. M. Automutilação na adolescência: O acesso a tratamento médico como direito fundamental. Algumas considerações sobre transtornos do controle de impulsos, v.1, n.1, 2009.

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