domingo, 29 de maio de 2016

GÊNERO E SEXUALIDADE NAS ESCOLAS: UM DESAFIO PARA OS EDUCADORES.


Breno Pacheco, Lucas Costa, Veronica Melo e Viviane Gomes

           Todos nós sabemos que a escola é um ambiente de grande contribuição na formação das crianças e adolescentes, não só no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo desses indivíduos, mas também em aspectos pessoais como o caráter, a personalidade, as decisões profissionais e a identidade sexual. Este último tema gera grande repercussão e nos faz pensar sobre uma questão importante: a sexualidade infantil é trabalhadas nas escolas, pelos educadores e responsáveis? Se sim, é realizada de maneira eficaz, ou seja, auxilia as crianças na compreensão do desenvolvimento sexual?
          Outro grande questionamento, ainda existente é: a quem é atribuída a responsabilidade de educar, sexualmente, as crianças e os adolescentes? Ainda hoje, devido a diversos fatores (falta de liberdade, ausência/pouco contato familiar - visto que muitos pais trabalham fora de casa e não participam efetivamente da vida escolar dos filhos - falta de formação e informação dos pais a respeito do assunto), muitos pais optam por transmitir essa responsabilidade, integralmente, para a escola. Porém, nas escolas, muitos professores também não têm formação adequada para abordar o tema que é cheio de tabus, e acabam discutindo a educação sexual apenas sobre o aspecto biológico, ressaltando o caráter preventivo de doenças sexualmente transmissíveis. Isso leva muitas vezes a questionamentos e dúvidas que não são sanadas no contexto escolar. Além disso, as informações veiculadas pelos meios de comunicação podem acabar confundindo a cabeça da nova geração.
          Com o avanço dos tempos e maior liberdade de expressão, o assunto vem ganhando espaço e sendo bastante discutido. Essa discussão ocorre não apenas na manifestação da sexualidade dos alunos e seus questionamentos, mas também na formação e instrução de educadores para o auxílio sobre as questões relacionadas à formação da identidade sexual desses alunos. Mas, ainda hoje, a concepção binária de gênero - feminino e masculino - como organizadora do cotidiano escolar, ainda existe. Parte-se do entendimento de que as meninas são aquelas que possuem a vulva e a vagina e que naturalmente, a menos que um problema ocorra, terão interesse sexual por meninos; e assim como meninos são aqueles que possuem pênis e que naturalmente se interessam por meninas. Assim, meninos "percebidos" como afeminados e meninas entendidas como masculinizadas são, muitas vezes, significados como anormais. Portanto, quanto mais se rompe com o padrão binário, mas são vistos como "seres adjetos" e "marcados" como portadores de transtornos.
         Como exemplo da predominância do padrão binário de gênero, temos o caso de um menino de 10 anos de idade, ocorrido no ano de 2011 no Reino Unido. Este garoto foi expulso da sua escola após ter ido vestido com um vestido rosa e uma coroa de princesa. E esse não é um caso isolado, em 2013 uma criança no estado de New Jersey nos EUA, foi hostilizada pelos colegas e pela professora após chegar à escola com roupa de bailarina. Podemos citar ainda, fora do âmbito escolar, o filho da cantora Britânica Adelle, que relatou aos pais, durante um passeio pelo parque de diversões da Disney World que queria se vestir de "Elsa" (uma princesa do Filme Frozen, da Disney), e percorreu grande percurso do parque com a fantasia, chamando atenção dos demais presentes e da mídia do mundo inteiro.
          Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez mais que a homo/lesbo/transfobia permeia a sociedade brasileira e está presente nas escolas. O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1500 professores (as) do Distrito Federal, apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos (as) professores (as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos garotos e 15% das garotas afirmaram que não gostariam de ter um colega homossexual na sala de aula.
          Marcos políticos como a Constituição Cidadã (BRASIL, 1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB9394/96 - (BRASIL, 1996), Estatuto da Criança e do adolescente (BRASIL,1990), dentre outros, afirmam que a educação é um direito de todos. Será que na prática as escolas estão preparadas para acolher todos, respeitando suas singularidades?
         Outra pesquisa, "Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar" realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito em relação à orientação sexual.
         Embora a diversidade sexual esteja na escola como enunciada, as políticas públicas de formação de professores não dão conta de satisfazer a fragilidade do vivido pelos professores. Isso pode ser verificado com as narrativas das professoras Andressa e Fátima - participantes da pesquisa citada acima - que dizem (respectivamente): "Nós professores não temos acesso a esta informação. Não temos projetos de formação voltados para esse assunto. Na verdade eles (governo) tentam abafar um pouco esse assunto" e "há restrições para falar da educação sexual devido à resistência dos pais e da comunidade. Uma parte é por questões religiosas, a outra, é por questões familiares".
          Já que a situação está neste pé, considera-se de importância básica o papel da escola na educação sexual, isto desde a pré-escola. Acredita-se nisso, pois se a criança crescer aceitando e compreendendo sua sexualidade, provavelmente terá uma vida sexual e emocional mais saudável. Mas para que os benefícios sejam alcançados é necessário, antes de tudo, a preparação dos educadores. Todos os educadores, não somente os professores de ciências ou biologia, e de psicologia. Esta preparação envolve o repensar de conceitos sexuais e a consequente quebra de tabus existentes ainda hoje.
          O número de cursos de formação sobre sexualidade e identidade sexual disponibilizado para profissionais da educação, não se equivale ao grande número de diferentes casos de desconforto, questionamento e até preconceito sobre o assunto. Aliás, este é um dos problemas mais sérios que esse tema pode chegar: o preconceito.
         É certo de que precisamos de mudança, e quando é dito mudança, estamos nos referindo ao envolvimento de todos os segmentos da escola: os professores, a supervisão, a orientação educacional e a direção. É uma corrente que não falta apenas um elo.
          Como primeiro passo para colocarmos a escola como fator positivo no processo de formação e compreensão da identidade dos alunos, é necessário realizar uma avaliação dos conceitos e dos tabus que ainda existem entre os professores. É pura demagogia querer uma escola moderna com real interesse na formação de seus alunos, enquanto ainda existir colegas que se barbarizam e segregam adolescentes grávidas, alunos homossexuais ou estudantes que não se vestem da maneira como pede a sociedade. Ou ainda que não admita, por exemplo, que a masturbação é parte do processo de desenvolvimento sexual. Não é negando estes fatos que vamos resolver os problemas da sexualidade, principalmente na adolescência.
          Uma vez que se tenha vencido o primeiro obstáculo (quebra de tabus), que não é fácil, pode-se passar para a próxima etapa na abordagem do tema sexualidade. Esta fase também não é fácil, diríamos até que é muito mais complexa. Trata-se da formação destes profissionais a respeito de como transmitir estas informações aos alunos. O que informar e quando informar. São questões difíceis de serem definidas, pois inexistem regras absolutas.

Referências:
RAMOS, Hugo Souza; RODRIGUES, Alexsandro. Gênero e sexualidade nas escolas: O que dizem os educadores?, GEPSs, Espírito Santo, 2012. UFES, Curso de Pedagogia.

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