Ana Caroline Volsi; Ana Paula Leonor; Larissa
Oliveira Cunha
O
câncer é uma doença que, considerada atualmente como um problema de saúde pública. Considerando o alto índice de sobrevivência
de crianças acometidas por câncer, cerca de 70%, considera-se a necessidade de
estudar os desafios que a doença e o tratamento acarretam no desenvolvimento infantil.
Ao
chegarem ao hospital, as crianças geralmente não estão preparadas para
enfrentar a doença. O medo, a angústia e a insegurança são fatores que
dificultam o início do cuidado, nos centros clínicos para tratamento. O psicólogo pode atuar já na entrada
do paciente com câncer no hospital podendo acompanhar até o momento dos
cuidados paliativos, quando ocorrer. Este profissional é a parte da assistência integral oferecida para pacientes e familiares na presença de uma doença grave que ameace a continuidade da vida.
Transformações
na rotina, na alimentação e na realização de atividades cotidianas, decorrentes
da necessidade de exames e internação mobilizam toda a vida da criança e de
seus familiares. Além disso decisões sobre tratamentos longos e invasivos, com
efeitos colaterais bastante desagradáveis, são algumas das consequências desta
doença considerada crônica.
Com o passar do tempo
esse processo pode levar a criança a constantes momentos de estresse e cansaço.
Além disto pode-se citar a preocupação com a autoimagem como fator ansiogênicos
para as crianças, pois o corpo também sofre alterações, o cabelo cai, a pele
resseca, fica complicado se alimentar.
É relevante considerar que durante a vivência
da criança ou do adolescente com o câncer a maioria sente a necessidade de
saber o que está acontecendo consigo. Isto reforça a necessidade de olhá-los de
forma integrada, procurando ajudá-los a minimizar o estresse, não se esquecendo
da sua capacidade inferior de compreender o que se passa a seu redor. Logo,
para informar sobre sua condição de saúde é importante utilizar linguajar
adequado para a idade do paciente, informando apenas o que eles demonstram
querer saber. Detalhes desnecessários do processo podem ser evitados para não
gerar.
Em alguns casos, os pacientes, bem como seus familiares,
não questionam os médicos sobre a doença ou sobre o tratamento, por vergonha ou
dificuldade de se expressar. O psicólogo pode atuar no esclarecimento de
dúvidas dos pacientes ou servir de mediador na relação com os médicos. Oferecer
atendimento no leito, acompanhar as angústias e tentar, de alguma forma,
identificar demandas para atendimento psicológico são algumas atividades que o
psicólogo pode realizar no acompanhamento de crianças com câncer.
Entende-se que a doença pode afetar pelo menos três
aspectos da vida: o biológico, o social e o psicológico que influenciarão de
alguma maneira a qualidade de vida da criança e de sua família. Uma ação
terapêutica é importante para o enfrentamento desta situação adversa. Compreender
e identificar a repercussão psicossocial do tratamento sobre os sobreviventes
abordar questões relacionadas à autoimagem, ao ajustamento psicossocial pós-tratamento,
à performance escolar,
aos sentimentos de discriminação e às expectativas da família também é o papel
do psicólogo.
Em síntese, a vida dessas
crianças se caracteriza pelo paradoxo de viver sem a doença, mas com risco de
sequelas e vulnerabilidade. Para os pacientes sem perspectiva de cura, a morte
se apresenta como inevitável e próxima (Camargo, 2000), portanto são
necessárias novas formas de cuidado, e o foco deve-se manter na qualidade de
vida nos últimos instantes. Não basta que os profissionais se preocupem apenas
em aplicar recursos tecnológicos ou com o aprimoramento de técnicas. Torna-se
de extrema importância o aprimoramento de habilidades, capacidades e
competências para oferecer uma assistência mais compreensiva e voltada para a
especificidade da criança. Incentivar a criança a brincar, correr, sentir-se
livre. O brincar deve ser explorado porque é uma forma de expressão mais
genuína, ao qual ela pode se expressar, se auto motivar e assim influenciar
positivamente no tratamento.