terça-feira, 14 de abril de 2015

Mãe, eu sou gay. E agora?

Mostre para sua mãe, é o momento para que ela leia o que você nunca conseguiu dizer por amá-la tanto e por ter medo de machucá-la! Ela precisa saber como você se sente.


Weder Ferreira


Por que a liberdade de se assumir e principalmente de se aceitar se tornam tão difíceis para os adolescentes? Você já parou para se perguntar como eles se sentem?
Poderia recorrer à história da humanidade e citar a Grécia antiga, onde o culto ao corpo era comum, mas na verdade estamos falando de uma identidade sexual.  Esse momento de descoberta é algo doloroso, não é fácil você se descobrir tão diferente do convencional. Tudo o que esses adolescentes precisam é de alguém para simplesmente ouvi-los, do carinho dessa mãe que foi a pessoa mais importante para eles desde os primeiros minutos de vida, do entendimento da família e do respeito.
Ouvir seu filho lhe contar que é gay não é fácil, você que sempre o amou e quis o melhor para ele. Neste momento, pode se sentir receosa do que o mundo, com tantas pessoas preconceituosas podem lhe reservar; mas, se não foi fácil para você ouvir tal coisa, para ele também não foi em lhe contar algo tão íntimo.

Então o que muda com tal revelação?

NADA, isso mesmo, absolutamente nada. Desprezá-lo e julgá-lo só irá fazê-lo se sentir mal consigo mesmo, sentir que é um extraterrestre dentro de casa, e com isso afastá-lo do convívio familiar. Pare e pense na sua rotina diária: você trabalha ou não, estuda ou não, e por umas duas ou três horas do seu dia você se relaciona de forma íntima com seu marido. Agora pense no seu filho: ele estuda ou não, trabalha ou não, e por alguns momentos ele se relaciona intimamente com alguém do mesmo sexo. Na maior parte do tempo, em que ele difere de você?
Percebeu que, mesmo sem intenção, você pode ter um preconceito que lhe foi ensinado desde pequena ao julgar alguém pelo que ele faz em alguns momentos de um dia que contém outras tantas horas nas quais vocês são exatamente iguais?

Preconceito, ah o preconceito...

Talvez você não saiba, talvez tenha dúvidas, mas preconceito nada mais é do que criar uma ideia de algo que não se sabe muito bem. O medo do desconhecido e a necessidade que temos de criar um juízo de valor sobre tudo, mesmo se não conhecermos do que se tratam nos leva a criar pré-conceitos para tudo que nos cerca.
E esse parece ser a principal preocupação dos pais, principalmente sua, mãe.  Na maioria dos casos a mãe sempre soube- talvez esperasse que isso mudasse com o tempo -, mas acreditou que ele nunca teria coragem de se assumir, de se aceitar, mas, por uma fatalidade da vida, ele se aceitou.  Agora é sua vez de aceitá-lo ou seu maior medo, o preconceito, vai começar dentro de casa. Tente olhar para ele,buscar aquele filho que você desde pequeno educou, protegeu do mundo, abraçou e cuidou quando estava triste ou doente. E então, conseguiu? Ele continua ali.
O preconceito vai estar presente sempre, em todos os lugares, e, portanto mais do que nunca, ele vai precisar daquele carinho, daquela proteção que antes tinha de você.
Você se sente capaz de continuar o protegendo?
A condição sexual do seu filho é capaz de diminuir seu amor por ele?

Ai meu Deus, ele tem um namorado!

Meu filho está namorando, que lindo, meu bebê já é um rapazinho!
Geralmente este poderia ser seu pensamento se o relacionamento do seu filho fosse com uma garota, mas não é. E agora?
Assim como ele precisou de um tempo para se aceitar, é perfeitamente normal você precisar de um tempo para se acostumar com essa ideia. Porém, tentar afastar ele do namorado, dizer que não aceita a presença dele, não querer conhece-lo ou ignorar esse assunto vai aumentar ainda mais a distância entre vocês.
No seu ritmo, vá buscando informações sobre este namorado com seu filho, tentando perceber se o relacionamento está fazendo ele se sentir bem. Falar com ele sobre os relacionamentos irá aproximar vocês ainda mais e, talvez, aumentar sua compreensão sobre os relacionamentos homossexuais, que não são tão diferentes dos heteros.

Mas, e agora, o que fazer?

Conversem sempre e caminhe com ele nessa dura descoberta para ambos. Não está sendo fácil para você, para ele também não, porém juntos tudo pode ser menos difícil.
Não tente forçá-lo a contar para o restante dos familiares e não conte também. Mesmo que sua intenção seja protegê-lo de comentários maldosos, essa decisão só cabe a ele. Permita que ele tenha o seu tempo. Por outro lado, se for da vontade dele que todos saibam: não o impeça. Por mais que seja algo novo e difícil para a família, e que você não esperava vivenciar, fugir do assunto não fará seu filho se tornar heterossexual, até porque ele não escolheu ser gay, é algo que faz parte de quem ele é. Homossexualidade não é, nem nunca foi doença, escolha ou rebeldia. A atração por pessoas do mesmo sexo se desenvolve lentamente junto com a maturação, com o desenvolvimento humano. Trata-se de um processo tão interno que em um determinado ponto ele se pegou olhando para outros homens de uma forma diferente, e não entendia o porquê.
Talvez seja algo clichê, mas para que possa saber o que se passa na cabeça do seu filho, o filme “Orações para Bobby” (Prayers for Bobby – 2009) talvez possa esclarecer um pouco, até você se sentir suficientemente pronta a conversar com ele.
Neste filme que recomendei a você, baseado em uma história real, Mary Griffith - mãe de um adolescente que se descobriu homossexual aos dezesseis anos nos diz: "(...) Eu não sabia que. cada vez que eu repetia condenação eterna aos gays, cada vez que eu me referia ao Bobby como doente e pervertido e perigoso às nossas crianças sua autoestima e seu valor próprio estavam sendo destruídos. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância e do medo de seus pais quanto à palavra "gay"."
É isso que você deseja para seu filho?
Então, depois disso tudo, se realmente a medida de amar é amar sem medida, se o amor de mãe é um amor incondicional. por que transformar isso em um problema? Você pode tornar tudo mais fácil, tente entender, só depende de você.

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