Timidez em foco!
Aislan Guimarães
Todos nós já passamos por situações de
Timidez. Apresentar um trabalho, falar em público ou simplesmente com uma
pessoa especial, são situações que podem provocar inúmeros pensamentos ruins em
qualquer pessoa. Ainda que seja tão natural o nervosismo, para a pessoa que
está passando por isso, é questão de vida ou morte, por mais que seja momentâneo.
Neste texto, você vai aprender a
controlar a timidez e, dia após dia,a potencializar a superação desse fator que
insiste em te colocar a prova, nos momentos mais inoportunos.
Antes de qualquer
coisa, para melhor entendimento do conteúdo abordado nesse texto, conheça alguns
conceitos e estruturas apresentadas pela neurociência em relação ao corpo
humano.
Conhecendo o seu cérebro
¹Cérebro:é um órgão que está contido na caixa
craniana. Apresenta giros e sulcos, composto por diversas estruturar que são
responsáveis pelo funcionamento cognitivo, emoções e por toda a comunicação do
meio interno para o meio externo de um indivíduo.
²Adrenalina:é um hormônio. Em momentos
de "stress", é secretado em quantidade abundante e prepara o
organismo para grandes esforços físicos.
³Sistema Límbico: é a unidade (região) do
cérebro responsável pelas emoções e comportamentos sociais, que dispensam o
pensamento racional.
Era uma Vez...
Lucas não é exatamente um jovem, 100%
extrovertido e brincalhão, entretanto com os seus 21 anos conseguiu muito bem
passar pela tortuosa etapa da adolescência e hoje se considera plenamente
melhor do que há 7 anos.
No passado, por volta dos seus 13 anos,
ele passou por uma das suas maiores “barreiras”. Em casa ele era muito amado
pelos pais e pelos outros familiares. Filho caçula, tinha como meta, ser como o
irmão mais velho, que naquela época tinha 16 anos. Ele vivia isolado do mudo,
tinha seu próprio universo, não se considerava um menino infeliz, mas se sentia
como um “peixinho fora d’água” quando estava na escola ou em qualquer outro
lugar.
Em uma sexta-feira atípica na escola,Lucas
iria apresentar um trabalho, diante de toda a turma. De antemão ele se preparou a semana
inteira, escreveu inúmeras vezes o que iria falar, gravou a sua própria voz em
áudio, falou incansavelmente diante ao espelho, usou de todos os artifícios
para se considerar preparado e assim enfrentar aquela sala com mais de 40 alunos
e uma professora. O temeroso dia chegou, essa é a hora de mostrar que fez o
melhor trabalho possível e, ao chegar a sua vez, se levantou, colocou-se no
meio da sala, olhou para cada rosto e com as folhas nas mãos, se desesperou,
começou a gaguejar, a suar frio e a imaginar milhões de coisas. Por fim acabou
com os olhos inclinados para baixo e finalizando a sua apresentação lendo tudo
que lutou tanto para aprender e memorizar, pois toda aquela situação fez com
que ele desse o famoso “branco”.
Ao passar dos anos,
devido a esse infeliz dia, Lucas era sempre o último a ser escolhido pelos seus
colegas para fazer qualquer atividade em grupo, porque eles não acreditavam no
seu potencial.
Sempre a sombra do
irmão e dos seus colegas, Lucas começou a perceber que era tratado como um
ninguém, que não tinha voz, que não era reconhecido e muito menos respeitado.
Então ele resolveu tomar uma atitude, dar o primeiro passo, tomar as rédeas de
sua própria vida e história.
E foi a partir
daquele despertar de consciência, que a sua vida foi transformada. Um dia após
o outro Lucas reafirmava perante o espelho: “Eu sou quem eu quero que eu
seja”. Devido a esse simples ato de coragem,
as coisas foram se encaixando, seus relacionamentos fluindo, passou a ser
reconhecido na sua turma, representou também a mesma em palestras, entrevistas
e apresentações. E um menino que mal abria a boca para responder “Presente” na
hora da chamada, se tornou um jovem altruísta, de sorriso fácil e com uma
autoestima acima da média. Hoje com seus 21 anos, fala de peito aberto e com
muito orgulho, que se tornou uma pessoa melhor, para os outros e principalmente
para si mesmo.
Então, fala!
Na história que você acabou de ler,
Lucas passou por momentos constrangedores, embaraçosos e vergonhosos. Ele se viu desmerecido e encurralado pelos
olhares das outras pessoas.
A timidez o inabilitou de executar uma
tarefa que para ele era muito difícil, mas para a qual estava realmente
preparado. A vergonha no campo das relações pode apresentar manifestações
corporais como desvio de olhar, comportamentos desastrados e rubor facial; na
linguagem se expressa por meio da gagueira, discursos sem sentido e até mesmo
na perda da fala; e, por fim, o que infelizmente aconteceu com o garoto que foi
o famoso “branco”.
A adolescência é, de fato, uma fase
complicada. É nessa idade que o jovem busca se afirmar como uma identidade
perante a sociedade.É também nesse momento que o organismo está no seu ápice de
cargas hormonais, o que é necessário para um desenvolvimento saudável, mas que
pode gerar implicações na vida dos adolescentes. O papel dos hormônios nas
reações de vergonha e timidez será discutido em breve.
Antes, é importante ressaltar que a
vergonha e inibição, muitas vezes frequentes na vida do adolescente. É nesse
período que pode manifestar a vergonha e inibição, pode surgir como resultado
do medo de ser julgado por outras pessoas.
Existem casos, entretanto, em que o medo
de se expor socialmente, tem que ser olhado com mais cuidado. Pois quando essa
situação apresenta mais intensidade e frequência sobre esses sintomas, causando
assim muita angústia, surge então um problema. Ele se denomina Fobia Social. E
para lidar com esse distúrbio a psicoterapia é um dos melhores caminhos.
Segundo CAMPOS (2014),
o lado mais perverso da timidez é que ela ocorre justamente quando a atitude
inversa é tudo o que se esperava de você. Deveria falar, mas se cala; deveria
dançar, mas congela como uma estátua. O pensamento racional, ainda que embaçado
pela enxurrada química dessa tempestade emocional, sabe que está tudo errado.
Ele disse para você fazer o contrário, só que o corpo não obedece. Simplesmente
não é possível.
Isso se deve porque o cérebro¹
interpreta a situação como uma circunstância de risco. Acontece então um pico
repentino de estresse. Na circulação sanguínea mais adrenalina². No raciocínio menos capacidade de execução da
determinada tarefa. E o produto final é um desempenho catastrófico da atividade
em execução.
Esse
nervosismo todo aparece quando o indivíduo é submetido ao julgamento alheio,
seja de uma plateia ou de uma pessoa especial, como em um pedido de namoro, por
exemplo.
Lucas temia
que acontecesse alguma coisa ruim no dia de sua apresentação, e antes de se
levantar para apresentar o seu trabalho, imaginava fantasias em que era
humilhado. Dentro do seu Cérebro, o Sistema Límbico³ interpretava essa
humilhação falsa como verdadeira e assim ordenava sucessíveis injeções de
adrenalina para que Lucas pudesse fugir daquele lugar o mais rápido possível.
Devido a essa inundação hormonal, algumas habilidades do jovem, como a fala,
foram prejudicados momentaneamente.
Em
outro exemplo, conhecemos muitas pessoas que pessoalmente se apresentam recatadas
e tímidas. Entretanto, quando estão livres de julgamentos imediatos, se mostram
indivíduos totalmente diferentes. Vemos muito isso nas redes sociais, por
exemplo. Devido à facilidade de se expressar através da linguagem escrita,a
internet se tornou uma grande aliada das pessoas, que a usam, como um lugar
seguro para se expressarem sem receio de julgamento.
Um
importante neurocientista brasileiro, chamado Fernando Campos, descreveu em seu
livro “Papo Cabeça”; cinco perguntas, que indicam traços de timidez. Leia com
calma, sem pressa, imagine situações ou lembre ocasiões reais e responda sim ou
não.
1.
Você sente desconforto quando falam seu nome em público?
2.
Você sente ansiedade quando tem que falar para muitas pessoas?
3.
Você evita falar ao telefone na frente de outras pessoas?
4.
Você desvia o olhar numa conversa?
5.
Você evita discordar das pessoas?
Ainda de acordo com
CAMPOS (2014), se pelo menos três respostas foram “sim”, você apresenta
características que sugerem timidez. No entanto, não precisa se preocupar, pois
até mesmo pessoas muito sociáveis, em determinas situações, apresentam certo
nível de ansiedade.
Em geral, as pessoas tímidas sabem que são
tímidas. Porem a timidez dificilmente vem sozinha, muitas vezes ela está ligada
a insegurança ou até mesmo a baixa autoestima. E é só a enfrentando que se pode
superá-la.
Vivendo melhor através da Neurociência
Se a timidez te incomoda, aprenda a moldá-la a seu favor,
seguindo as sugestões a seguir:
1.
Saber a verdadeira dimensão do “monstro” criado pelo seu
cérebro é ter a plena consciência de que ele não passa de um “pequeno bichano”,
não sendo tão grave assim como você imaginava.
2.
Faça uma classificação das pessoas que estão no seu
convívio, nomeando-as em introvertidas e extrovertidas. Depois comece a observá-las
e verá que mesmo as pessoas mais extrovertidas em determinadas situações
sentem-se vergonhosas.
3.
Encarar o medo é a única forma de superá-lo. Identifique
algumas situações que lhe causam timidez, as enumere do menor para o maior.
Comece a se colocar diante a essas (situações) e uma após a outra, procure
moldar o seu cérebro controlando as suas reações, realizando assim uma nova adaptação
de seus comportamentos. No entanto se não conseguir realizar essa última
sugestão sozinho, é de suma importância que você procure uma ajuda psicológica.
Referência: CAMPOS, Fernando G. Papo Cabeça. São Paulo. Editora Leya.
2014.